A Força da Decoração.
Revendo alguns trabalhos recentes, me deparei com um atendimento que realizei em São Paulo em 2015 e me fez pensar ser uma experiência muito bacana para compartilhar, pois todos podemos tirar proveito disso.
Fui chamado para uma conversa por este casal gaúcho que mora em São Paulo. Haviam, a pouco tempo, se mudado para uma casa recém reformada e idealizada em conjunto com um escritório de arquitetura local.Tudo certo e tudo muito legal.
Aos meus olhos, um belo resultado fruto do bom gosto e o autoconhecimento do casal somado à qualidade do escritório responsável.
Mas então, qual seria a minha função? Esse foi o “x” da questão. Como contribuir com arquitetura sem desfazer a boa arquitetura?
É´ chegado um ponto, na conclusão de “qualquer” trabalho, em que tudo aquilo que foi pensado e idealizado em fase de projeto começa a ser testado e colocado em prática. É o momento onde começamos a ligar os equipamentos, a fazer com que todos os itens que compõem o projeto passem a interagir e a depender um do outro.
Nesse momento passamos a reavaliar tudo, literalmente tudo o que foi feito e pensado. E imaginamos se poderia ter sido feito diferente.
No caso destes clientes, por causa de todo o turbilhão de novas informações e o normal cansaço do período de obras, eles simplesmente não conseguiam enxergar o bom resultado obtido. Estavam, simplesmente, com olhos e cabeça cansados.
Após uma boa conversa, foi possível perceber como contribuir. Grande parte do meu trabalho de arquiteto com o casal acabou sendo em ajudá-los a recuperar a percepção correta sobre o que haviam feito, revalidando as decisões tomadas, pois a casa tinha a cara deles. Leve, alegre e receptiva. Avaliar alguns ajustes de layout (organização dos ambientes) e com isso proporcionar que ficasse mais de acordo com o que gostariam. Percepções somente possíveis após o uso diário da casa. E também avaliar as novas aquisições para a complementação dos espaços e decoração.
Um dos pontos bacanas desse trabalho foi a organização e distribuição das revistas, livros e objetos. Para mim, este conjunto de informação diz muito a respeito das pessoas, pois são itens que todos compramos por escolha e identificação e não por uma necessidade como, por exemplo, se fossem comprar cadeiras para uma mesa de jantar.
Para mim, a distribuição destes objetos pessoais personalizam os espaços, pois proporcionam que pequenas histórias sejam contadas sobre seus donos e que, na medida que se percorre a casa, permite aos convidados conhecerem melhor os proprietários. É uma montagem de informações nas quais temos a oportunidade de limitarmos até onde de nossa intimidade ou características estamos dispostos dividir com os visitantes.
Poder entrar em uma casa e reconhecer os seus donos pelo simples olhar é algo muito gratificante, pois sabemos que a arquitetura de contar uma história foi bem realizada e garante que o trabalho feito permanecerá por muito tempo.
Quanto ao resultado, eu acredito que tenha sido este mesmo, pois quando entramos nessa casa sentimos, de imediato, a boa energia dessa família.
Arquitetura de interiores e decoração, para mim, vai muito além do simples resultado “ficar bonito”, ela precisa qualificar a vida das pessoas no seu uso diário e também dar-lhes o prazer de se sentiram na sua casa.
Maurício Aurvalle, arquiteto.