Você já se fez a seguinte pergunta?
“Como deverá ser a minha casa, ou o lugar onde eu estiver, quando eu chegar a uma idade bem avançada? ”.
Mas e se eu trouxer esta pergunta para o presente?
“Como é a casa que os idosos da minha família vivem hoje em dia? ”
Será que ela está adaptada e qualificada para proteger, facilitar e acolher?
Pois é. Vai chegando uma idade onde tudo começa a sofrer alterações e a forma de se relacionar com o meio em que vivemos muda completamente.
Enquanto nós, em nossa plena atividade física e profissional, realizamos atividades medindo o tempo em segundos, minutos e horas, pessoas com idade avançada medem suas ações por horas, turnos e dias.
Enquanto uns agem com a esperteza do raciocínio rápido, outros desfrutam da sabedoria lenta e profunda. É como se a vida fosse o centro das nossas atenções, porém sendo vista em lados diferentes.
Sem dúvida alguma, a vida passa em ritmos diferentes.
É como olharmos a paisagem pela janela de um carro durante uma viagem. Quanto mais rápido o carro andar, menos paisagem conseguiremos perceber. Vamos chegar mais rápido ao destino, mas, sem dúvida, perderemos a riqueza de percebê-la em seus detalhes.
A vida nas cidades é assim. Rápida, frenética, agitada...diria também que ela se torna, e nos torna, individualista. Seja no egoísmo do trânsito ao caminhar preocupado apenas com a tela do celular.
Fotógrafos, poetas, artistas, curiosos, desocupados, despreocupados, ambulantes e tantos outros, mas ainda muito poucos, esses sim percebem a cidade. Leem para que servem tampas metálicas na calçada. Percebem que faltam parafusos em placas. Ou então que lavaram a calçada de basalto com o lava-jato. Percebem o olho de quem vende seus produtos estendidos na rua. E sabe que aqueles botões para fazerem o sinal fechar em travessia de pedestre não servem para nada...são um placebo visual para esperarmos o tráfico programado para parar.
Não temos controle sobre a cidade. Entramos nela como subimos em uma esteira em funcionamento – “sobe e vai! ”. A cidade é mais forte que a nossa calma e lentidão. Não temos escolha. Se pararmos, alguém nos empurra.
Mas no campo não é assim. O campo é lento, bucólico e capaz de produzir um silêncio digno de um sábio eremita. Resistente e questionador.
No campo, os segundos e os minutos não possuem vez. Eles não são importantes. Eles são atrasados da mesma forma que o apressado o é. A lentidão da vida no campo é mais forte que a pressa da cidade. O Geek vira bagual
A verdade é que não temos controle sobre a vida fora das nossas casas. Lá, quem dita as regras é a força do contexto e a vontade do coletivo. Porém, quando cruzamos a porta de nossa casa, passamos a ter o controle e oportunidade de construirmos o meio ideal para vivermos. Só depende de nós.
Podemos escolher entre aquilo que a vida urbana nos influencia e oferece ou podemos optar pela vida no campo. Também podemos mesclá-las. Sim, podemos.
Porém, quando pertencemos a um destes dois contextos fica muito difícil viver sob as condições do seu oposto. Jovens e adultos conseguem viver com o ritmo da cidade, mas os idosos...poucos conseguem.
Para o idoso, é preciso que o mundo desacelere e seus afazeres se adaptem às suas possibilidades. O contexto tem que estar ao seu alcance e ao seu servir.
É com esse objetivo que a arquitetura para idoso se torna imprescindível. Proporcionar conforto, segurança e inclusão de uma pessoa com as características do campo para as demandas da cidade.
Eu poderia falar muito mais a respeito....e vou...mas não agora.
Maurício Aurvalle.